RESULTADO
I PRÊMIO CORNELIA ECKERT DE FILME ETNOGRÁFICO
1º lugar
Natureza Fala
Realizador: Marcus Ramusyo de Almeida Brasil
Maranhão/Brasil
Sinopse: A paisagem, o vento, o sol e o mar guiam o imaginário das falas que compõem a narrativa. Com as personagens, o trabalho também foi de espera, para ouvir o que eles tinham a dizer. Mas a urgência do agora não tardou em trazer à tona o que os acontecimentos não deixam calar. O Cajueiro é um das últimas comunidades rurais da ilha de São Luís, capital do Maranhão, Brasil. Desde sua fundação vive sob sistemáticas tentativas de desapropriação de suas terras. Atualmente, o Cajueiro sofre as investidas da empresa WPR, que tenta a todo custo retirar os moradores do local para a construção de um porto privado.
2º lugar
Tradição e imaginação
Realizadora: Vanessa Kleinpeter Fernandes
Porto - Portugal
Sinopse: No Benim, ainda se tem medo do mar, guardam-se as memórias de um passado de escravatura. Uma memória que resiste. Está na estrada principal da cidade de Ouidah, “A rota dos escravos”, nos pesados monumentos ao abandono, nas pautas dos gestos dançados ao som do vento e do mar. São as palavras dos anciões que revitalizam a luz, e a esperança de reencontrar o que foi perdido.
3º lugar
Quem passou primeiro foi São Benedito
Realizador: Pablo Gabriel Pinto Monteiro
Maranhão - Brasil
Sinopse: “Quem passou primeiro foi São Benedito” é um curta documental que retrata a história de Maria Luiza, coureira e mãe de santo através da trajetória sobre seus laços religiosos no tambor de crioula e no tambor de mina. Com 78 anos, quase todos dedicados à encantaria e a Punga, Dona Maria tece narrativas sobre suas experiências religiosas que se alargam em toda a sua história de vida, perpassam seus movimentos cotidianos, produz afetos e é um constante retorno à sua ancestralidade e trajetória familiar.
A importância de suas obrigações religiosas para com São Benedito e encantados, os significados que envolvem o seu trabalho junto a essas manifestações vão de encontro aos percursos e composições de sua vida, sendo assim inseparável de toda a sua história e do seu caminho percorrido desde os primeiros passos.
A biografia contida em suas falas e corporalidades revela também sua relação com a comunidade onde reside, no bairro do Anjo da Guarda, área de grande concentração de migrantes oriundos da Baixada Maranhense, região considerada como um grande “Quilombo Urbano”, local de resistência e disseminação das manifestações afro-maranhenses.
As narrativas de Maria Luiza vão de encontro ao entrelaçamento existente entre o tambor de crioula e o tambor de mina, a estreita relação possível entre cultura e religião afro-brasileira no Maranhão e como essas trocas se perpetuam em múltiplas formas, narrativas e histórias representando assim, a diversidade da herança cultural negra no Estado, sua fluidez e circulação entre lugares e pessoas, cruzamentos que revelam a complexidade e riqueza destas relações.
I PRÊMIO DE FOTOGRAFIA CORNELIA ECKERT
1º lugar
Luta e Resistência Kaingang: Território, Memória e Perseguição
Por: Clémentine Maréchal (RS)
Este ensaio fotográfico expressa a relação que os Kaingang que moram em Acampamentos de Retomadas no Alto Uruguai (Rio Grande do Sul, Brasil) desenvolvem com um território cada vez mais devastado pelos avanços do agronegócio e uma perseguição cada vez mais aguda tanto por parte de alguns setores do Estado brasileiro quanto por parte dos fazendeiros locais. A resistência das mulheres e homens Kaingang nesses Acampamentos de Retomadas se manifesta com a força da relação que eles mantêm com os poucos vënh-kagta, “remédios do mato” que sobrevivem nos desertos criados pela agricultura intensiva. Tendo como pano de fundo a ditadura militar e a expansão das fronteiras agrícolas no país, é desde uma perspectiva Kaingang do território que esse ensaio fotográfico relata a história do sul do Brasil. Essa história se manifesta por um lado na memória ancestral de cada erva, casca, folha colhida e por outro na destruição, expressada pela hegemonia de uma paisagem monotemática. A luta nas retomadas dos territórios Kaingang é entendida como uma luta na procura de (re)criação de relações com os seres da natureza, relações que rompem com os modelos de relação com a terra, baseados na produtividade e na concepção da terra enquanto objeto, historicamente impostos nos Postos e nas Terras Indígenas. As araucárias nascendo expressam a relação entre a ancestralidade Kaingang, os processos históricos e coloniais sofridos por eles e um futuro de esperança baseado na procura de uma autonomia política, espiritual e territorial.
Os Acampamentos de Retomadas são territórios recuperados de forma autônoma pelos Kaingang nas últimas décadas. São chamados de Acampamentos porque, apesar dos laudos antropológicos terem sido realizados e aprovados pela FUNAI, o Estado brasileiro ainda não concluiu a demarcação e homologação da terra e assim a retirada dos fazendeiros ou pequenos agricultores que atualmente moram nessas terras. De esta maneira, nos Acampamentos de Retomadas, os Kaingang são recluídos em espaços de 2 a 4 hectares no máximo.
2º lugar
Somos Ka’apor
Por: Alessandro Ricardo Pinto Campos (PA)
Este pequeno ensaio fotográfico é composto por imagens feitas em Axinguirendá, uma das aldeias do povo Ka’apor que fazem parte da Terra Indígena Alto Turiaçu no Estado do Maranhão, durante algumas de minhas estadias. É com eles que desenvolvo minha pesquisa de doutoramento, recolhendo suas velhas histórias de guerra e as adaptações das técnicas para as lutas atuais.
Mas não é apenas isso que faço quando estou por lá, pois estou sempre na presença de bons amigos. Não costumo apenas enchê-los de perguntas (por vezes algumas não os deve interessar muito) ou passar tempo demais anotando em meu caderno de campo. Quando estou na aldeia estou com eles, verdadeiramente, aproveitando suas presenças. São pessoas que admiro, amo e respeito. Suas coragem, ternura e sabedoria são inspiradoras.
As imagens escolhidas aqui, não retratam algum ritual ou festa. São fotografias retratos de jovens e crianças ka’apor em seus dias comuns, posando pra mim. Convivendo, interagindo e crescendo. Ao lado dos seus, de seu povo e em sua terra. São felizes.
3º lugar
São Raimundo dos Mulundus, o Santo Vaqueiro
Por: Marcus Ramusyo de Almeida Brasil (MA)
A fé é o que alimenta as fotografias realizadas por Marcus Ramusyo de Almeida Brasil durante a Procissão do Festejo de São Raimundo do Mulundus, em 22 de agosto de 2012. A procissão perfaz um caminho de 7 quilômetros da cidade de Vargem Grande – MA, até o povoado de Paulica, onde é rezada uma missa e são realizadas diversas atividades de socialização, quando então os romeiros retornam à paróquia da cidade de Vargem Grande. A figura do vaqueiro montado a cavalo, com suas vestes de couro, que segue em procissão com outros tantos, revela o aspecto cultural da fé. A presença de jovens, velhos e crianças reforça a continuidade desta manifestação, que tal como tantas outras da cultura maranhense, mostra-se em toda sua vitalidade a partir do reencenar constante das tradições, e, nas tradições, as práticas que delas emergem. Tradições estas que longe de pertencerem ao passado, indagam o futuro a partir das vivências e experiências que transformam o presente.